23/04/2024 - 12:24
Maitê Proença celebra 60 anos

Maitê Proença celebra 60 anos no palco e afirma: Homens sabem pouco sobre mulheres.

Em tom vigoroso, Maitê Proença avisa que não bebe água em copo descartável. “É para servir no de vidro, nem que seja naquele de requeijão”, orienta a uma das funcionárias do Teatro XP, no Leblon. Em seguida, faz questão de exibir um recipiente retrátil de silicone adquirido numa loja de acessórios ecológicos recentemente. “Tenho que conscientizar a minha equipe”, justifica. Os argumentos firmes demonstram que não há frescura ali. Apesar do rosto levemente maquiado, dos fios louros muito bem penteados — e do fato de ter o Copacabana Palace como quintal de casa —, a aparência e as atitudes de mulher sofisticada escondem uma surpreendente lista de negações: Maitê não frequenta salões de cabeleireiro, jamais pinta as unhas e nunca foi figurinha fácil de consultórios dermatológicos. Aos 60 anos recém-completados, ela jura não ligar tanto para o espelho.

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— Sou vaidosa, mas não obcecada — revela a adepta de exercícios de ioga (“quase todos os dias”).

Desde o último fim de semana, a figura de presença imponente ocupa o palco na Zona Sul do Rio para celebrar a idade redonda e as quatro décadas de carreira. Como protagonista do monólogo “A mulher de Bath”, na pele de uma senhora que enterrou cinco maridos, a paulistana discursa, sem papas na língua, sobre assuntos como casamento, vingança e sexo. A ideia é provocar o público com reflexões de caráter feminista.

— Não adianta ficar falando com quem já concorda comigo. Preciso alcançar quem pensa diferente e acha chato esse pleito. Nada melhor do que o humor para isso — defende.

Fora da ficção, os temas controversos também são pauta constante nos lábios bem desenhados. Maitê gosta de opinar acerca da oposição entre os universos masculino e feminino. Sobre copos, corpos, líquidos e secreções, há sempre o que ser dito, afinal.

— Homens sabem pouco sobre as mulheres, inclusive na cama. Mas, com jeito, a gente pode ensinar, porque não é falta de interesse. Eles não sabem que pouco sabem — dispara, antes de acrescentar que está namorando (ela não revela o nome): — As mulheres também entendem pouco dos homens, mas desconfio de que têm menos o que aprender. Não vou ser explícita, mas acho que a fisiologia masculina é menos complexa.



A postura transparente com que lida com tabus ainda é vista com espanto por alguns. Ela não se incomoda com a repercussão polêmica de determinadas ações e declarações nos últimos meses. Em entrevista recente, logo após o fim de um contrato de 37 anos com a Globo, Maitê denunciou uma série de assédios sofridos ao longo da trajetória profissional. Se não fosse mulher, suas falas seriam encaradas com mais tranquilidade, ela tem certeza.

— As pessoas que se colocam são atacadas, sobretudo numa sociedade de ânimos exaltados e opiniões rasas e radicais. Sou do time da verdade, e durmo melhor assim. Não sofro de insônia. Apesar de ser uma pessoa bastante reservada, tenho o temperamento justiceiro e não sossego até que as coisas estejam como devam estar — argumenta, com fôlego: — Não sou do tipo quietinha e sou fraca como engolidora de sapos. Mas não gosto de reclamar. Prefiro agir, colocar às claras, conversar, encontrar um caminho possível. Assim vou me virando nesse mundo de homens. Além disso, gosto muito deles. Detestaria viver sem eles. Então, aprendi a conviver.






Distante da teledramaturgia desde “Liberdade, liberdade” (2016), Maitê tem recebido convites para integrar o elenco de outras emissoras da TV. Ela nega todos. Por enquanto, as prioridades são os palcos e a rotina ao lado da filha, Maria Marinho, de 27 anos (fruto do casamento com o empresário Paulo Marinho).

— Quero e preciso fazer cada vez melhor o que escolho. Neste momento, meu desejo é fazer menos e estar mais. O tempo virou um luxo. É tanto sinal me convocando para isso e para aquilo, que não consigo mais pensar de forma criativa. Quero tempo para viver! — ressalta, ponderando que, num futuro qualquer, pode, sim, encarnar personagens em novelas bíblicas: — Não tenho preconceito quando se trata de trabalho. Tudo pode ser feito de forma honrada. As portas estarão sempre abertas a propostas.

Está aí a prova: Maitê Proença realmente não descarta nada.