
A Península, empresa de investimentos do empresário Abilio Diniz, anunciou nesta quinta-feira (18/12) a compra de 10% das operações da unidade brasileira do Carrefour por 525 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão).
Segundo comunicado divulgado pelo Carrefour, a transação envolvendo Abilio é "o primeiro passo de um importante plano" do presidente e executivo-chefe da varejista francesa, Georges Plassat, de trazer investidores externos para o capital da sua subsidiária brasileira, "a fim de reforçar os seus laços locais e apoiar o seu crescimento".
Nos próximos cinco anos, a Península pode aumentar sua participação acionária na empresa para até 16%.
Abilio Diniz: Lugar de gente feliz agora é no Carrefour
A operação marca a volta de Abilio Diniz ao varejo - e ele passará a concorrer diretamente com Jean-Charles Naouri, do grupo Casino, atual controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Segundo comunicado do Carrefour, Abilio ajudará a empresa nos planos de "renovação e expansão da rede no país", que envolvem diretamente o desenvolvimento de novos formatos de lojas, como o Carrefour Express. Com vendas de R$ 34 bilhões em 2013, o Brasil é o segundo maior mercado do grupo francês.
Entrada à francesa
Atualmente, Abilio é presidente do conselho da empresa de alimentos BRF, oriunda da fusão entre Sadia e Perdigão. No final de 2013, ele "mudou-se para o outro lado do balcão", o da indústria, após deixar oficialmente o Grupo Pão de Açúcar, empresa fundada por seu pai, Valetim Diniz, em 1948. Desde a sua saída, Abilio e seus familiares venderam as ações que possuíam do GPA.
As conversas com o Carrefour
Conforme antecipado por Época NEGÓCIOS na edição de junho deste ano, Abilio já arquitetava sua volta ao varejo, através de sua antiga rival, há alguns meses.
Em dezembro de 2013, Abilio foi cortejado pelo presidente mundial do Carrefour para assumir a direção da subsidiária brasileira do grupo. As negociações não avançaram, porque Abilio afirmou que estava focado na BRF - empresa em que promoveu grandes reestruturações desde que chegou. Ao longo desse ano, com a BRF apresentando resultados financeiros mais próximos do que os acionistas desejavam, Abilio não ficou mais tão envolvido diretamente no dia a dia da empresa. Participava de reuniões estratégicas e passou bastante tempo na Península. Viagens internacionais ficaram cada vez mais frequentes, principalmente para a Europa.
Em maio de 2014, o empresário, que oficialmente negava as conversas com o Carrefour, comprou 3% de ações do grupo mundial - especula-se que ele teria desembolsado US$ 1 bilhão no negócio. A nova transação, anunciada hoje, também pode indicar que Abilio tem planos mais ambiciosos. "Essa compra de 10% é só o primeiro passo de uma estratégia global", diz hoje uma fonte do mercado financeiro.
Pão de Açúcar e Casino
O empresário renunciou ao cargo de presidente do Conselho do GPA em setembro de 2013, pondo fim a uma briga de quase dois anos com Jean-Charles Naouri, dono do Casino. Entre os motivos dos desentendimentos, estavam a tentativa de Abilio em 2011 de unir o Pão de Açúcar com a unidade brasileira do Carrefour, que é rival do Casino da França.
Na negociação com os franceses, Abilio conseguiu anular uma cláusula de non-compete, que o impediria de voltar ao varejo num prazo preestabelecido. Amigos próximos disseram que essa foi a grande vitória de Abilio na negociação. Algo que permitiu, de certo modo, o seu retorno ao varejo agora.