Piaui em Pauta

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PIB do Piauí cresceu de forma

PIB do Piauí cresceu de forma sustentada e é fácil avançar nas exportações

Publicada em 19 de Outubro de 2011 �s 14h27


 PIB do Piauí cresceu de forma sustentada e é fácil avançar nas exportações

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O professor de Economia Brasileira do curso de Economia e a de Desenvolvimento e Questões regionais do Mestrado em Ciência Política da Ufpi (Universidade Federal do Piauí), Ricardo Alaggio tem uma carreira acadêmica irrepreensível. Graduado em Engenharia Civil e Economia pela Universidade Federal do Piauí, Ricardo Alaggio concluiu seu mestrado e doutorado em Ciência Política pela Unicamp (Universidade de Campinas) .


Professor do Mestrado em Ciência Política Ricardo Alaggio (Foto Efrém Ribeiro)

Com o professor e economista Francisco Veloso, Ricardo Alaggio vai publicar o primeiro alentado livro sobre a economia do Piauí a partir de pesquisas feitas sobre arranjos produtivos, financiadas pela BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) .

Ele ressalta que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu de forma sustentável, aproveitando o crescimento nacional do avanço do avanço do consumo dos setores de baixa renda, como avalia ser bastante visível em Teresina, a capital.

“Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estamos à frente de Alagoas e Maranhão estados conhecidos pelas suas mazelas sociais. Esta relativa dianteira se deve aos índices de longevidade e educação que entre nós são melhores. Porém, recentes estatísticas sobre a permanência do analfabetismo em índices elevados não são muito promissoras para o futuro do estado. Para terminar é preciso destacar a baixa dinâmica do comércio externo do Piauí. Somos o estado nordestino que menos exporta e as nossas exportações sofrem de oscilações contínuas em valores e quantidades. Este é um setor no qual muito pode ser feito até porque é fácil avançar a partir dos patamares tão baixos em nos encontramos”, afirma Ricardo Allaggio.

Meio Noite – Quais as principais conclusões de sua pesquisa sobre a economia do Piauí?

Ricardo Alaggio - Em verdade a pesquisa era conduzida pelo economista Francisco Veloso e por outros professores do Departamento de Economia da Universidade Federal e financiada pelo BNDES. O objetivo maior era mapear os chamados “arranjos produtivos” tal como definidos pelo banco. Mas estudamos a economia estadual em seus vários aspectos e chegamos a algumas descobertas interessantes, mas creio que não é possível relatá-las todas no espaço de uma entrevista. Entre o inesperado descobrimos que o Maranhão é o nosso principal parceiro comercial ao invés de São Paulo como se pensava ( este fica em segundo lugar). Descobrimos também que os nossos arranjos produtivos são frágeis, não estão plenamente implantados – alguns podem regredir no futuro – e necessitam de maior apoio nas diversas etapas do negócio, se assim se pode dizer.

Meio Norte – Quais os principais potenciais do Piauí?

Ricardo Alaggio -Não gosto de entrar na discussão e no discurso recorrente dos possíveis “potenciais” do Piauí. Potenciais podem ser aproveitados ou não. Isto depende de muitos fatores: governo, empreendedorismo, capital, viabilidade de mercado,disponibilidade de uma mão de obra qualificada, cultura. Existem sim estratégias que podem ser pensadas. Por um lado, podemos apostar no que vem dando certo, o potencial do que existe e pode ser pensado e mensurado como, por exemplo, apostar e apoiar uma economia teresinense, claramente uma economia dinâmica com destaque na área de saúde e educação. Por outro, devemos estar buscando soluções não obvias para o crescimento do estado e fazer o que nunca foi feito de fato: a introdução de inovação no campo com o aumento da produtividade da agricultura familiar; apoio mais firme ao agronegócio; uma política eficiente de atração de investimentos; a diminuição dos enormes problemas infraestruturais existentes etc. Mas ao meu ver o aparelho do estado não está preparado para esta missão.

Meio Norte - Por que o Piauí é um dos Estados mais pobres do Brasil?

Ricardo Alaggio - Historicamente nos especializamos na atividade agrária pastoril que em certo momento entrou em decadência, sem que nada a substituísse de forma a engendrar um crescimento econômico positivo. A partir dos anos 60, nos transformamos em uma economia regional periférica subordinada a expansão da economia do sudeste do país. Os diversos governos federais desde a época do regime militar levaram a frente um amplo projeto de modernização nacional mas entre nós, sem que houvesse sido criada uma economia industrializada por diversos motivos, estes processos geraram um sistema econômico subdesenvolvido, de baixa produtividade onde predomina o uso da mão de obra em atividades de subsistência ou informais, criando um sistema de serviços hipertrofiado, onde as atividades comerciais e o emprego público são muito importantes. Para se ter ideia, as atividades governamentais geram cerca de 26,5% da renda do Piauí, enquanto em São Paulo respondem por apenas 8,5%.

Meio Norte – O que deu errado?

Ricardo Alaggio - Sempre digo aos meus alunos que devemos evitar um pouco falar das mazelas do estado que não são poucas e que possuem, no mais das vezes um roteiro conhecido. Durante muito tempo o Piauí recebeu grandes investimentos infraestruturais que não tiveram o efeito multiplicador esperado – o que mostra que este não é um fator por si só conducente ao desenvolvimento. Temos que superar imediatamente o discurso inócuo dos “projetos estruturantes” que tira o foco do principal. Não sou contra o porto de Luis Correia, o aeroporto de São Raimundo Nonato etc. , mas é claro que não são as portas para o desenvolvimento do estado. Pergunte a qualquer produtor do cerrado se ele quer levar a soja dele até Luis Correia e ele irá olhar para você espantado. Ele e o estado precisam sim do básico, por exemplo, estradas que não se desmancham na primeira estação de chuvas.

Meio Norte – O que pode dar certo na economia e no desenvolvimento do Piauí a partir de agora?

Ricardo Alaggio - Economia não é uma ciência exata e vivemos em um ambiente de contínua incerteza, onde os dados que definirão o futuro estão sendo jogados agora. Historicamente o estado cresceu a reboque da nação. Se o país vai bem o Piauí consegue avançar e as coisas funcionam até que vem uma crise e o desenvolvimento se detém. Esperamos que o país cresça e as verbas inundem o estado, essa é a medida dos nossos estadistas. No meu ver temos que reformar o Estado e refazer o pacto federativo que se encontra despedaçado. Se por um lado é bom que tenhamos o repasse de verbas para educação, saúde etc. percebemos que não existe no nível estadual nenhuma instância onde é possível pensar uma política publica piauiense de saúde, de segurança, de assistência social etc., todos programas estão atrelados ao poder federal e parece que a sabedoria hoje se resume em enviar bons projetos aos ministérios. Da mesma forma, temos a gigantesca deformação daquilo que é chamado de “emendas parlamentares” onde verbas públicas são destinadas aos interesses mais locais ou individuais, sem nenhuma conexão com a idéia de um desenvolvimento minimamente planejado.

Meio Norte – O que justifica o otimismo que alguns setores políticos têm em relação ao Piauí?

Ricardo Alaggio - Não creio que exista este otimismo. O que existe de fato é o uso do linguajar ou do discurso do desenvolvimento para fins de legitimar as ações do governo e fazer uma propaganda que não coincide com a realidade, como se viu em governos recentes. Além disso, governos gostam de ter dinheiro na mão para gastar. Deve-se entender que desenvolvimento não é algo que se consegue em um pequeno período de tempo que é o mandato de um presidente, um governador. Leva tempo, requer trabalho e dedicação aos pontos fundamentais e, acima de tudo, só é possível se existe um projeto amplo de nação que o embase. Hoje parece que existe um novo desenvolvimentismo em gestação no governo federal que me parece positivo , como foi positivo o aumento dos gastos sociais e o aumento do salário mínimo nos últimos anos. Que fique claro: o Piauí não pode se desenvolver se o país também não avança, ainda mais dado o alto grau de dependência que temos do governo federal.

Meio Norte – O que justifica o pessimismo de alguns setores da sociedade em relação ao Piauí?

Ricardo Alaggio - Bem, as pessoas viajam, leem, estudam e finalmente compreendem que o Piauí ainda tem muito que crescer para se equiparar pelo menos aos estados nordestinos mais desenvolvidos. Apesar dos avanços verificados nos últimos anos em diversas áreas, percebe-se que estamos ficando defasados e menos atrativos economicamente falando em relação aos nossos vizinhos Maranhão e Ceará. Maranhão foi o estado nordestino que mais cresceu na década passada, apesar da permanência de graves problemas sociais. O Ceará conduziu seu crescimento de forma mais efetiva através de um pacto político que o fez superar a sombra de oligarquias disfuncionais para o crescimento

econômico. No Piauí não vemos isto, o atual governador que é bem intencionado, herdou um aparelho de estado também disfuncional, com secretarias tratadas como feudos políticos e, com raras exceções, um funcionalismo despreparado e desmotivado para as tarefas exigidas pelo desenvolvimento econômico.

Meio Norte – No Piauí, o governo interfere ou não na economia? De forma positiva ou negativa?

Ricardo Alaggio - Em uma situação como a nossa onde o Estado é o maior empregador e é quem faz e desfaz as fortunas individuais não há duvidas quanto a importância do governo e dos rumos que ele imprime à economia. A dependência do estado é tão grande que podemos dizer que esta é uma característica marcante do nosso subdesenvolvimento, de forma que desenvolver o Piauí seria ao mesmo tempo, inevitavelmente diminuir o peso do setor estatal na formação da renda e do produto. Em uma pesquisa de 2005, um aluno do Mestrado em Políticas Públicas somou todas, todas mesmo, as transferências que o governo federal faz para o Piaui – Fundos de participação, salários do funcionalismo federal, previdência, programas de assistência social etc. e descobriu que elas respondem por metade do PIB do estado. Uma outra pesquisa de 2010 mostrou os mesmos números. Considerando que a nossa renda per capita já é a mais baixa do Brasil, sem as transferências teríamos uma renda per capita baixa, muito baixa, de país africano.

Meio Norte – Quais os principais indicadores da economia do Piauí e como estão na atualidade?

Ricardo Alaggio - O PIB do Piauí cresceu sustentadamente na década passada ao reboque do crescimento nacional e do avanço do consumo dos setores de baixa renda, como é bastante visível na capital. No entanto continuamos a ter o pior produto per capita do país apesar do crescimento verificado, os outros também avançaram aproveitando as oportunidades. Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano – IDH estamos a frente de Alagoas e Maranhão estados conhecidos pelas suas mazelas sociais. Esta relativa dianteira se deve aos índices de longevidade e educação que entre nós são melhores. Porém, recentes estatísticas sobre a permanência do analfabetismo em índices elevados não são muito promissoras para o futuro do estado. Para terminar é preciso destacar a baixa dinâmica do comércio externo do Piauí. Somos o estado nordestino que menos exporta e as nossas exportações sofrem de oscilações contínuas em valores e quantidades. Este é um setor no qual muito pode ser feito até porque é fácil avançar a partir dos patamares tão baixos em nos encontramos.
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Fonte: MN �|� Publicado por: Da Redação
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