Certos episódios dizem muito sobre a distância que separa o gabinete da presidente da sala do seu vice. Nos últimos dias de março, Dilma Rousseff deparou-se com uma encruzilhada de agenda.
Entrecruzaram-se na folhinha dois encontros internacionais de primeira linha. Num, os cinco mandachuvas do Brics discutiram na Índia a crise financeira internacional. Noutro, representantes de 50 nações tratariam na Coreia do Sul de segurança nuclear.
A presidente optou por voar para Nova Déli. Pediu a Michel Temer que a representasse em Seul. Mobilizado, o aparato de comunicação do Planalto lançou todos os seus holofotes sobre Dilma. Para o vice, providenciou-se um apagão midiático.
Sobre Dilma, soube-se de tudo. Inclusive do turismo de mau gosto financiado pelo suor do contribuinte. Ficou-se sabendo que, para poupar à visitante ilustre o inconveniente de ter de roçar cotovelos com turistas convencionais no Taj Mahal, fechou-se o monumento.
Sobre Temer, soube-se de coisa nenhuma. E não foi por falta de matéria prima. O representante de Dilma discursou para uma platéia que incluía a nata do poder planetário –do americano Barack Obama ao chinês Hu Jintao.
Numa cúpula em que se discutia energia nuclear e terrorismo, Temer realçou os valores pacifistas do Brasil. Foi cumprimentado por Obama. Concentrada em Dilma, a máquina de comunicação do Planalto frangou a fala e a foto.
De volta ao Brasil, Temer revelou-se decepcionado com a desatenção gratuita de que foi alvo. Queixou-se em privado, como é do seu feitio. Os pemedebês que o ouviram levaram o episódio à caderneta dos contenciosos.
De desapreço em menosprezo, vai-se consolidando a impressão de que o vice-presidente e seu partido recebem da titular e do governo dela um tratamento de segunda classe. Avoluma-se a coluna do passivo.
Para sorte de Dilma, Temer não é dado a rompantes. Para azar da presidente, o PMDB não é de deixar contas definitivamente em aberto. Mais cedo ou mais tarde, a caderneta será aberta.