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Em viagem à China, Lula tem a

Em viagem à China, Lula tem a missão de ampliar venda de produtos a um país em desaceleração.

Publicada em 24 de Março de 2023 �s 07h27


O estreitamento das relações comerciais entre Brasil e China deve ser a principal tônica da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país asiático, que acontece neste final de semana.

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Convidado pelo presidente chinês, Xi Jinping, Lula tem uma pauta econômica clara: defender as relações já construídas com o maior parceiro comercial do Brasil e, eventualmente, ampliar a gama de produtos brasileiros para venda no gigante asiático.

Do ponto de vista geopolítico, Lula se encontra com Xi em momento sensível, em que a China mostra alinhamento com a Rússia durante a guerra na Ucrânia. Lula precisará balancear o aceno a um dos mais importantes motores da nossa atividade econômica, sem que a política externa contamine o comércio com outros parceiros do Ocidente — como os Estados Unidos.

De olho na balança comercial
Com uma comitiva que conta com parlamentares, ministros e mais de 200 empresários, a agenda de Lula na China será cheia. O principal destaque, segundo economistas, fica com a tentativa de ampliar a gama de produtos brasileiros oferecidos no mercado chinês.

O petista também tem o desafio de desatar nós na relação, herdados da gestão de Jair Bolsonaro. Em seus anos de mandato, o ex-presidente alinhou-se irrestritamente ao colega americano Donald Trump e fez reiteradas críticas ao regime chinês — até mesmo no comércio de vacinas contra a Covid-19.

Segundo o economista e sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, no entanto, apesar da pauta de reindustrialização do governo, pode ser difícil para o Brasil encontrar um “caminho adicional de exportações” para o país.

De acordo com Campos Neto, seis produtos correspondem por cerca de 85% do total de exportações que o Brasil faz para a China: minério de ferro, soja, petróleo, celulose, carnes e milho.

“É difícil que isso aconteça facilmente porque, no fundo, o que a China precisa são os itens que já vendemos em larga escala, como matérias-primas e commodities. A China já é um grande produtor de bens manufaturados e seus parceiros na Ásia também já suprem bem a demanda que falta nesse sentido”, explica o economista.
“Acho mais provável que a gente consiga ampliar as relações e os volumes do que a gente já fornece do que emplacar exportações de bens industrializados”, acrescenta.

Uma China diferente
Quando Lula deixou a Presidência após o segundo mandato, o Brasil surfava a onda das commodities. O país havia crescido 7,5% em 2010, na esteira de uma aceleração de 10,3% da China.

O cenário, agora, é outro. No começo deste ano, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou as projeções para o crescimento da economia chinesa em 2023 de 4,4% para 5,2%, mas destacou que a expansão do país no ano que vem deve desacelerar para 4,5%, antes de se estabelecer abaixo de 4% a médio prazo.

A China ainda se recupera das paralisações econômicas severas, consequência da política de “Covid zero” presentes até o ano passado. Em 2023, o país asiático determinou uma meta de crescimento de 5% — que economistas questionam se será atingida.

Segundo Campos Neto, a retomada chinesa ainda é moderada e gradual. “Não é um crescimento tão explosivo e grande porque a própria China ainda se depara com questões internas”, diz.

“Temos um setor estatal com elevado nível de endividamento e segmentos da economia que também apresentam problemas, como é o caso do setor imobiliário. Agora, a tendência é que haja um ajuste desse cenário, o que também acaba sendo um limitante para o crescimento”, afirma o economista.
Ele explica, no entanto, que mesmo que a China apresente um crescimento menor, a atividade do país ainda estará em um nível “importante e satisfatório” e deve continuar tendo um peso importante para as exportações brasileiras.

Para Livio Ribeiro, especialista em China e pesquisador sênior do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), os 5% não deixam de ser um número ainda relevante, e que devem dar bastante suporte às exportações brasileiras.

“Prefiro uma China crescendo a 5% sem cometer excessos do que uma China que mantenha esse ritmo com políticas imprudentes”, afirma.
O pesquisador diz que a tentativa de expandir a pauta comercial é válida, principalmente do ponto de vista de reduzir a volatilidade dos preços de produtos primários que o Brasil costuma exportar. Os solavancos no preço da soja, por exemplo, podem aumentar ou reduzir demais a arrecadação brasileira, ele explica.

Ainda assim, ele não vê problema na especialização produtiva. “O país só fica mais blindado de choques, mas o central é saber o que fazer com o dinheiro das vendas e, não, de onde ele vem.”

Como outro ponto de reflexão, Ribeiro lembra que Lula encontra um país que mudou sua estrutura política e ainda enfrenta uma saída de pandemia desafiadora. O caminho, portanto, pode ser diferente do que o comércio exterior, puro e simples.

“É um jogo diferente. É uma economia que ficou voltada para o exterior por muito tempo e, agora, está focada no mercado interno, que tem uma carência de bens e serviços, e que procura oportunidades de investimento”, diz.

“Podemos ter novos acordos comerciais, de investimento e reverter fluxos de capital. Mas a questão principal é voltar para jogo, porque a gestão anterior se voltou contra seu principal parceiro comercial”, prossegue.

Relações Internacionais
Além de reforçar os laços comerciais com Pequim, Lula também deve tratar sobre temas que envolvem o desenvolvimento do país, tecnologia, mudança do clima, transição energética e o combate à fome.

“É um momento em que o Brasil e a China também falam para o mundo, isso também estará nos objetivos”, afirmou o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty na semana passada.

Parte desse movimento, segundo os especialistas, também pode envolver uma reaproximação política do Brasil com Xi Jinping — principalmente após as tensões políticas entre os dois países vista nos últimos anos, em meio a críticas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados contra o gigante asiático.

O ponto de atenção são os eventuais debates sobre tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia. “Acho que é um tema um pouco mais difícil de tocar, uma vez que a China está indiretamente envolvida e o Brasil tem dificuldade de entrar no tema por conta de alguns interesses cruzados. O presidente precisará adotar uma postura mais pragmática e diplomática”, afirma Campos Neto, da Tendências.

Livio Ribeiro, do Ibre/FGV, lembra que os países ocidentais caminharam na direção de um crescimento de “sentimento sinofóbico” (de aversão à China) nos últimos anos, e a diplomacia brasileira precisará trabalhar para não contaminar os ânimos da viagem.

“Começa com Trump e continua de forma menos histriônica [exagerada] com Biden. Quando a Rússia foi 'ejetada' do Ocidente, ela se volta para o Oriente. Tem uma bipolaridade que pode ser misturada na questão comercial, de ser 'contra os EUA' e se aliar ao bloco que começa a emergir do outro lado”, afirma o pesquisador.

“Encarar a viagem assim não faz sentido. A diplomacia brasileira tem histórico de conversar com todos.”

Tags: Em viagem à China - O estreitamento das

Fonte: globo �|� Publicado por: Da Redação
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