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Enem 2019: questões de históri

Enem 2019: questões de história foram mais fáceis, mas erros podem derrubar nota, alertam professore

Publicada em 03 de Novembro de 2019 �s 23h03


O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 não teve questões que possam ser consideradas "polêmicas" ou "ideológicas", mas professores de cursinhos ouvidos pelo G1 destacaram que as questões de história acabaram sendo mais fáceis que no ano passado.

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Alguns deles também disseram que temas bastante comuns, como Era Vargas e Ditadura Militar no Brasil, ficaram de fora do exame, e que a prova privilegiou temas atuais, como literatura contemporânea e assuntos ligados à tecnologia e às redes sociais.

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VÍDEOS: Professores comentam as questões do 1º dia
De acordo com os professores, o nível de facilidade das questões de história – que representam um terço da prova de ciências humanas – se deve ao alto número de questões consideradas pouco conteudistas, ou seja, que poderiam ser resolvidas apenas com a interpretação dos textos, enunciados e alternativas.


O problema, segundo eles, é que o aumento de questões fáceis também aumenta a pressão para que os candidatos acertem as alternativas delas. Isso porque, pela metodologia do Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI) avalia o percurso do estudante em todas as 45 questões da prova, e pode não conceder a pontuação máxima de uma questão difícil certa caso haja erros em questões mais fáceis.

"A edição 2019 do Enem foi uma prova clássica, com questões que abordaram temas tradicionais, apresentando testes com comandos mais claros, o que facilitava a escolha da alternativa" - Marcelo Dias, coordenador do Grupo Etapa
"Foram mantidas estruturas, como quadrinhos, figuras, tabelas e uma abordagem mais interpretativa na filosofia e na sociologia."

Alexandre Antonello, ccoordenador pedagógico do Sistema de Ensino CPV, afirmou que, "somando tudo [provas de redação, ciências humanas e linguagens], faltou tempo, ou o mesmo ficou no limite, pela exigência das duas provas na parte de leitura e na cobrança dos assuntos".

Leia abaixo os comentários de professores de 12 colégios e cursinhos pré-vestibulares:

Anglo Vestibulares: Daniel Perry (diretor)
COC: Marilu Mendes (geografia) e Glauco Pinheiro (história)
Colégio De A a Z: Rodrigo Magalhães (geografia) e David Gonçalves (redação)
Curso Maximize: Alexandre Takata (coordenador pedagógico)
Curso e Colégio Objetivo: Vera Lúcia Antunes (coordenadora) e Ricardo Felipe di Carlo (história)
Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante: Marcelo Pavani (diretor pedagógico) e Victor Rysovas (história)
Descomplica: João Daniel (história)
Grupo Etapa: Marcelo Dias (coordenador) e Heric José Palos (história)
Poliedro: Fernando da Espiritu Santo (gerente de inteligência educacional)
ProEnem: Leandro Almeida (geografia) e Leandro Vieira (sociologia e filosofia)
SAS Plataforma de Educação: Ademar Celedônio (diretor de ensino e inovações educacionais)
Sistema de Ensino CPV: Alexandre Antonello (coordenador pedagógico)
Prova de ciências humanas menos complexa
Na visão da maior parte dos professores ouvidos pelo G1, a prova de ciências humanas foi menos complexa como um todo.

"A prova de humanas foi um pouco menos complexa", explicou Alexandre Takata, coordenador pedagógico do Curso Maximize. "Não foram apresentadas, por exemplo, questões que demandavam análises conjunturais. Muitas exigiam apenas o conhecimento de um conteúdo ou processo histórico específico."

História
Na opinião de Glauco Pinheiro, professor de história do COC, "se o candidato tivesse calma, olhando a questão, a resposta estava lá. 70% da prova [de história] estava assim. Não precisava de fato ter um conhecido pré-estabelecido para responder a essas questões".

Segundo Victor Rysovas, professor de história do Oficina do Estudante, "a prova de história está fácil, e o candidato que não conseguir fazê-la vai perder ponto, porque está muito tranquila".

Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, avalia que, "de forma geral, foi uma prova com itens menos complexos em relação a anos anteriores" e que, "muito provavelmente as maiores dificuldades que os alunos enfrentarão são relacionadas àqueles itens em que algumas palavras não fazem parte do repertório dos estudantes".

Alexandre Antonello, coordenador pedagógico do Sistema de Ensino CPV, ressaltou que a exigência de relacionar dois textos para achar a resposta correta, que apareceu em boa parte da prova, "deve ter dificultado um pouco a vida dos alunos".

Um dos motivos da menor complexidade da prova, segundo Rodrigo Magalhães, professor de geografia do Colégio De A a Z, é o fato de que "os textos não estavam tão longos, o que é uma certa tendência dos últimos anos". Magalhães diz que todos os enunciados traziam um texto de apoio, mas eles eram muito diretos.

Por outro lado, Ricardo Felipe di Carlo, professor de história do Objetivo, afirmou que as questões da disciplina tinham exemplos mais fáceis e outros mais difíceis, e considerou a prova "inteligente, com conceitos que premiam o aluno bem preparado". Ele explica que as "habilidades tradicionais do Enem" foram exigidas "de maneira analítica" e que as questões abordaram um "conteúdo amplo, e história antiga, medieval, moderna, contemporânea, do Brasil, de maneira ampla também, do Brasil Colônia, a Independência, a Constituição de 1988".


Geografia
No caso de geografia, Magalhães, do De A a Z, ressaltou que temas já clássicos do Enem apareceram novamente, como clima, desconcentração industrial, relação sociedade-natureza, a construção de Brasília e a globalização. "O nível da prova eu diria que variou bastante, desde questões bem fáceis até algumas questões difíceis, bem conteudistas".

Por sua vez, Marilu Mendes, professora de geografia do COC, ressaltou que em anos anteriores a quantidade de questões conteudistas foi maior do que em 2019. "Vocês vão ver que tem pouquíssimas assim de cartografia ou geografia física. Foram questões realmente mais de interpretação e do aluno estar inteirado do que está acontecendo na atualidade", explicou ela no programa ao vivo do G1.

Já Antonello, do CPV, ressaltou que as questões de geografia trouxeram termos técnicos como "pegada ecológica", bem conhecida dos alunos, e outros talvez menos comuns, como "franja urbana". Ele destacou a questão sobre a extinção das abelhas, um problema ambiental que foi investigado pelo Ibama em 2014.

Filosofia e sociologia
"Filosofia foi a disciplina que experimentou o maior aumento do número de questões em relação aos anos anteriores", destacaram os professores do ProEnem.

"Pudemos observar questões de diversos períodos históricos e de várias correntes do pensamento filosófico, com a presença de autores como Smith, Maquiavel, Bacon, Descartes, Foucault, Derrida, Santo Agostinho, Kant e Arendt."
Por outro lado, Antonello afirmou que faltaram questões sobre filosofia antiga, helenismo, estoicismo, pirronismo e cetismo.

Vera Lúcia Antunes, coodenadora do Objetivo, disse que os professores do curso e colégio acharam alto o nível das questões de filosofia e sociologia. "Os alunos precisavam ter um conhecimento elevado, que não era simples, mas uma prova pode ter provas dificéis. Dá equilíbrio para a prova. Dentro das humanas, a sociologia foi a mais difícil."

Fernando do Espiritu Santo, gerente de inteligência educacional do Poliedro, afirmou que, "de uma maneira em geral, a prova inovou por um lado com algumas temáticas mais próximas do cotidiano dos estudantes, até em função do período em que aconteceram, mas sem deixar de lado os autores clássicos".

Linguagens manteve nível de dificuldade
"A prova foi considerada do mesmo padrão dos anos anteriores", explicou Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais do SAS Plataforma de Educação. Na opinião dele, a prova teve bastante incidência de literatura contemporânea.


"Curiosamente, a prova de linguagens teve enunciados mais precisos e assertivos", ressaltou Heric José Palos, coordenador de português do Grupo Etapa. Ele afirmou que a seleção de textos foi "mais extensa, porém sem dificuldades, sem textos imprecisos e duvidosos", e que os textos, com diversas fontes e gêneros, "envolviam tecnologia, linguagem, textos verbais e não verbais". Por outro lado, "os textos literários apresentaram uma dificuldade um pouco maior (até pelo gênero, mais metafórico)".

"A prova foi considerada com o mesmo padrão dos anos anteriores, porém muito cansativa e com muitos textos. Nesse momento, ela está sendo comparada com uma prova lá atrás, de 2012, que foi também uma prova muito extensa, com muitos textos de comparatividade entre os outros", afirmou Celedônio, do SAS.

Segundo Vera Lúcia, do Objetivo, o Enem seguiu seu padrão de competências e habilidades na prova de linguagens. "Por exemplo, sempre cai muita arte, as funções da linguagem, interpretações de textos, que é comum no Enem, textos críticos. Então, não houve inovação. Seguiu aquele padrão excelente."

Ela citou como exemplos as questões sobre refugiados, a violência contra a mulher, a questão de direitos humanos. "É realmente uma prova que não te dá trabalho. O inglês segue também a tradição, tem texto, tem a poesia, tem uma música da Madonna, tem uma charge. Foi uma prova bem dentro do que se esperava em inglês, sem problema nenhum."

Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares, a prova exigiu muita leitura, como costuma acontecer, mas aumentou o número de questões que podiam ser respondidas apenas com a interpretação do texto.

"É marcante a maior quantidade de questões de entendimento de texto. Houve pouca cobrança de literatura e artes e pouca cobrança de gramática. Podemos perceber a cobrança de questões que envolveram crônica, publicidade, reportagem, poema e infográfico", afirmou Perry.
As questões de artes, segundo Palos, do Etapa, "não fugiram da tradição (cubismo, futurismo e abstracionismo) e foram mais simples, isto é, com comandos mais precisos. Apenas chamou a atenção a ausência de arte contemporânea".

Já as questões de língua estrangeira inovaram com textos mais longos, ressaltou Alexandre Antonello, do CPV. "Na prova de espanhol tivemos duas novidades: uma questão em forma de poema e outra trazendo uma receita. Uma prova que exigiu a interpretação. No inglês, das cinco questões, uma era letra de música, que também é uma novidade, em termos de formato. Mas tudo exigia interpretação de texto."

Redação mais próxima dos candidatos
De acordo com David Gonçalves, professor de redação do Colégio De A a Z, o tema da redação, sobre a "Democratização do acesso ao cinema no Brasil", se encaixa no histórico do exame de "refletir sobre as dificuldades de parcelas da população em obter certos tipos de direitos". Nesse caso, trata-se do direito de acesso à arte, de forma mais geral, e o acesso ao cinema, falando mais especificamente.


"Então isso só comprova que não é interessante a gente estipular algumas teorias conspiratórias que de alguma forma nos comprovariam o tema antes do conhecimento do tema. Quem partiu dessa premissa vai sentir um pouco de dificuldade de escrever sobre isso talvez porque não tenha refletido sobre isso ao longo do ano", explicou Gonçalves.
A professora Maria Catarina Bozio, coordenadora de redação do Poliedro, alertou que o tema "restringe a questão da cultura apenas ao cinema, então não deixa muitas lacunas". Por outro lado, trata-se de um tema mais próximo dos candidatos jovens, especialmente os que estão terminando o ensino médio. O fato de alguns tópicos sobre cinema, como a Lei Rouanet e as questões relativas à Ancine, também podem ajudar na hora de desenvolver o texto.

"Eles [candidatos adolescentes] são grandes usuários dos serviços de streaming de vídeo, embora nem todas as cidades, pensando principalmente no interior, tenham cinemas ou recebam filmes fora do circuito hollywoodiano. Isso poderia ser explorado, pensando um pouco em capital cultural, em indústria cultural, trazendo conteúdos de filosofia e sociologia que eles também trabalharam durante o ensino médio", explicou ela.

Ausência de polêmicas e mais atualidade
Marcelo Pavani, diretor pedagógico do Oficina do Estudante, "mesmo com os temas abordados, nenhuma questão suscita polêmica, esperando do candidato uma posição ideológica específica para a sua compreensão ou resolução. Nesse sentido, o Inep produziu uma prova neutra, sem qualquer postura ideológica explícita".


Na opinião de Giba Alvarez, do Cursinho da Poli, as polêmicas de fato ficaram de fora, mas, segundo alguns professores do cursinho chamaram a atenção "alguns temas de história do Brasil não caíram esse ano: Era Vargas, ditadura militar no Brasil. Foram temas que, daqueles recorrentes, de fato esse ano não caíram".

O governo de Getúlio Vargas e a ditadura militar no Brasil são dois assuntos de História do Brasil considerados recorrentes na prova. Segundo um levantamento do Poliedro, a Era Vargas é um dos cinco temas de história mais frequentes no Enem. Desde 2009, cerca de 11% das questões de história abordam o assunto.

"A ausência de Vargas e ditadura civil-militar pode ser um sinal de evitar temas potencialmente constrangedores", avaliou Victor Rysovas, do Oficina. "Isso pois visões tidas como revisionistas buscam negar o fato de que tivemos uma ditadura entre 1964 e 1985, especialmente."

Segundo Perry, do Anglo, não houve questões que possam ser consideradas polêmicas. "A prova foi técnica, bastante semelhante aos anos anteriores. Os tema foram distribuídos de forma bastante abrangente, na linha da busca pela contextualização das competências, relacionando-a com o cotidiano, com o mundo contemporâneo", disse ele.

Leandro Almeida e Leandro Vieira, do ProEnem, ressaltaram ainda "o baixo número de questões de história, além da ausência de temas clássicos como Revolução Francesa, Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria".


"O MEC parece ter seguido a orientação do ministro da Educação, evitando algumas questões consideradas 'ideológicas'", afirmou Tanaka, coordenador pedagógico do Maximize." Assuntos como racismo e intolerância sexual à população LGBTQI não apareceram nesta edição. Mesmo assim, as provas trataram de assuntos atuais e importantes, como obesidade, bullying, violência contra as mulheres, liberdade de expressão, refugiados e acessibilidade."
Para Alexandre Antonello, "se uma maneira geral a prova atendeu a finalidade de selecionar os melhores alunos dentro do Sisu [Sistema de Seleção Unificada]".

Espiritu Santu, do Poliedro, concorda. "Certamente a banca que elaborou o exame trabalhou bastante no final de 2018 e comecinho de 2019 para conseguir apresentar essa temática mais antenada e mais atualizada. É isso. Foi uma boa prova e irá discriminar os melhores estudantes. Vamos aguardar o próximo domingo."
Tags: Enem 2019: questões - Enem

Fonte: globo �|� Publicado por: Da Redação
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