Estudantes de uma escola particular de Petrolina (a 780 km de Recife, PE) teriam tido acesso ao tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) antes da realização da prova. O vazamento, segundo o professor de português do colégio Geo, onde eles estudam, Marcos Antonio Freire de Paula, teria sido comunicado por um aluno sobre o caso cerca de uma hora antes do exame.
De acordo com ele, esse estudante o procurou para pedir conselhos sobre como desenvolver um texto que abordasse os assuntos "trabalho e escravidão". O trabalho escravo foi o título de um texto de apoio para o tema da redação, "o trabalho na construção da dignidade humana". "Ele chegou dizendo que o tema havia vazado e que sabia que seria esse", afirmou Freire de Paula. "Eu não dei muita importância, mas, como ele perguntou, nós discutimos o assunto."
Logo em seguida, disse, outros alunos se aproximaram perguntando a mesma coisa. "Tínhamos vários professores num ponto de apoio do colégio no local da prova, e todos foram atendidos", afirmou. Questionados sobre como teriam tido acesso à informação, os estudantes disseram aos professores que o vazamento ocorreu no Piauí, na cidade de São Raimundo Nonato. "Isso foi a conversa dos alunos: um colega teria avisado outro por telefone e o boato correu." "Quando a prova acabou e o pessoal confirmou o tema da redação, tomei um susto", afirmou Freire de Paula. "Pensei: não pode ser coincidência." A Polícia Federal de Juazeiro (BA), cidade vizinha a Petrolina, investiga o caso.
Outra versão
A coordenadora responsável pela aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em São Raimundo Nonato (PI), Rosa Maria de Oliveira, negou que tenha havido vazamento do tema de redação no município.
A denúncia foi feita por professores de um cursinho pré-vestibular de Petrolina (PE), citando relato de alunos. A coordenadora também afirmou que não foi procurada pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público para investigação da denúncia. "Ninguém me procurou para nada. Essa história de vazamento é mentira. Não tivemos problemas com lacre nos malotes ou nas provas. Tudo foi feito conforme as determinações", disse Rosa Maria. "Os malotes vêm pelos Correios, acompanhados pelo Exército e pela Polícia Militar. Recebemos tudo no horário correto. Os malotes foram abertos com a presença de duas testemunhas, e estavam todos devidamente lacrados", alegou. Segundo ela, em São Raimundo Nonato foram aplicadas as provas do Enem em sete escolas e todas foram supervisionadas.
"Não tivemos nenhuma ocorrência, a não ser um recado no portal". A coordenadora se refere ao site local de notícias "Portal SRN", que divulgou a seguinte mensagem de um internauta: "A cidade aqui está cheia de provas de redação do Enem que vazaram em São Raimundo Nonato. Já se tem a confirmação de que alunos foram orientados, em frente à Facape, sobre o tema da redação e sobre como escrever!". A mensagem foi postada no site por um autor identificado apenas como "Estudante!" às 21h17 de domingo, dia de realização da prova. A Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina (Facape) foi um dos locais de realização do concurso em Petrolina. "Não tinha como os alunos de São Raimundo chegarem a Petrolina no dia da prova com essa informação. São pelo menos cinco horas de viagem", defendeu a coordenadora. O caso de vazamento está sendo investigado pela Polícia Federal do Ceará e da Bahia, já que Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são separadas apenas por um viaduto. A assessoria da Polícia Federal do Piauí não confirmou nenhuma investigação sobre o caso.