A Casa Branca reagiu hoje de forma contida à expulsão do chefe da espionagem norte-americana na Alemanha, apesar de diversos responsáveis em Washington começarem a manifestar preocupação pelas suas consequências na relação entre os dois aliados.
O governo alemão anunciou ao início da tarde a expulsão do chefe dos serviços secretos norte-americanos na Alemanha no âmbito de um caso de espionagem de responsáveis alemães a favor de Washington, uma medida rara entre aliados da NATO.
A decisão constitui o ápicede meses de problemas diplomáticos não resolvidos sobre os métodos de vigilância utilizados pelos Estados Unidos no território de um dos seus mais indispensáveis aliados. Mas ao contrário de uma resposta específica, a Casa Branca optou por sublinhar a importância da relação com Berlim.
"Qualquer comentário sobre os supostos fatos colocaria em perigo os agentes americanos, o pessoal americano e a segurança nacional americana", declarou Josh Earnest, porta-voz do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Num Congresso concentrado em assuntos internos -- a vaga de menores clandestinos na fronteira com o México, o orçamento de 2015 e o financiamento das autoestradas --, o escândalo da Alemanha teve impacto reduzido. A questão nem sequer foi evocada na conferência de imprensa semanal do presidente da Câmara dos Representantes (a câmara baixa do Congresso norte-americano).
Uma relativa indiferença que mereceu reparos esta semana por parte do presidente da comissão dos Negócios Estrangeiros do Bundestag (parlamento alemão), Norbert Roettgen, de visita a Washington.
No entanto, os eleitos responsáveis pelos assuntos externos não ignoraram a rápida degradação da relação estratégica germano-americana.
"Estou profundamente inquieto», disse aos jornalistas a poderosa presidente da comissão de Informações do Senado (a câmara alta do Congresso), Dianne Feinstein. A senadora revelou estar recolheendo detalhes sobre o caso, que permanece quase desconhecido para o grande público.
"O presidente deverá gerir diretamente esta questão com [a chanceler alemã] Angela Merkel, é muito importante porque a nossa relação é demasiado importante para que fique deteriorada por este motivo", disse à agência noticiosa AFP Tim Kaine, membro da comissão dos Negócios Estrangeiros.
A porta-voz do Departamento de Estado também anunciava "para os próximos dias" um encontro do secretário de Estado, John Kerry, com o seu homólogo alemão Frank-Walter Steinmeier.
Ao início da tarde de hoje, e através de um comunicado, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, informou que «foi pedido ao representante dos serviços secretos norte-americanos na embaixada dos Estados Unidos da América para deixar a Alemanha.
A expulsão ocorre "como resposta à falta de cooperação (constatada) há bastante tempo nos esforços para esclarecer" a atividade de agentes de informações norte-americanos na Alemanha, explicou um deputado alemão, Clemens Binninger, presidente da comissão de controlo parlamentar dos serviços de Informações, que se reuniu hoje em Berlim.
Pela segunda vez em cinco dias, a justiça alemã abriu na quarta-feira um inquérito sobre um alegado espião que forneceu informações a Washington.
O caso agravou a tensão existente entre os Estados Unidos e a Alemanha desde as revelações o ano passado sobre escutas feitas pelos norte-americanos ao celular de Angela Merkel.
Depois das denúncias da semana passada sobre um agente do serviço de informações alemão (BND) suspeito de trabalhar também para a CIA, a procuradoria federal anunciou na quarta-feira estar investigando um outro caso.
"Creio que nestes momentos, que podem ser muito confusos, é fundamental ser-se capaz de confiar nos aliados", declarou Angela Merkel num encontro com a imprensa, antes do anúncio da expulsão.