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Chega aos cinemas a sequência do filme de 2010 sobre o menino franzino que mudou a cabeça de toda uma tribo viking ao provar que dragões não eram inimigos naturais do homem e poderiam até ser domesticados. Em meio à agitação da Copa do Mundo, pode ser que a estreia deste “Como Treinar o Seu Dragão 2″ passe um pouco despercebida pelo público brasileiro. O que seria uma lástima, já que se trata do grande longa de animação do ano. Ainda que no filme original Soluço tenha passado poucas e boas para fazer valer seu ponto de vista, agora o reencontramos em uma situação de relativa harmonia. Toda a comunidade parece muito satisfeita em desfrutar das regalias de ter dragões como animais de estimação – aliás, a corrida de dragões do início se parece bastante com as partidas de Quadribol da franquia “Harry Potter”. Soluço finalmente conquistou o respeito do pai e a admiração de todos, porém está prestes a descobrir que o mundo vai além da sua ilha e que lá fora as coisas são complicadas. Se antes estava em jogo sua autoafirmação, agora a ameaça paira sobre todo um recém-conquistado estilo de vida.
Como esse segundo filme se passa cinco anos após o primeiro, um dos pontos curiosos é a versão mais crescida dos personagens que antes eram adolescentes, situação rara de acontecer em filmes de animação. Soluço tem 20 anos e ganhou um jeito mais confiante, embora continue cheio de dúvidas sobre o que realmente quer fazer da vida. Novos conflitos, novos personagens e revelações surpreendentes porão ainda mais à prova suas convicções, e ele aprenderá que existem pessoas que simplesmente não estão abertas ao diálogo. Já os dragões estão cada vez mais engraçadinhos e vão enternecer em especial as pessoas que têm animais de estimação, visto que se comportam como grandes cachorros voadores. Banguela continua sendo a grande atração, claro, mas as novas espécies trazem variedades que vão dos filhotinhos desobedientes ao terrível “alfa” que ameaça a comunidade. Quanto ao 3D, é bem-feito, mas não fundamental.
Mas o filme conta com outros elementos para se sustentar além de sua (excelente) animação. Como todo roteiro inteligente, o de “Como Treinar o Seu Dragão 2″ equilibra bom humor com drama, sequências fofas com outras eletrizantes e, sobretudo, cenas para entreter os pequenos com conflitos mais sérios para atrair os adultos. É especialmente interessante o modo como a trama parte da situação mais pessoal e limitada do primeiro filme para discutir conceitos mais amplos, inclusive inserindo questões ambientalistas de um modo natural e nada panfletário. Um dos grandes trunfos do filme é justamente tocar em temas profundos – como autodescobrimento, escolhas pessoais, tolerância e tantos outros – de modo muito simples, mas não simplório. Não há dúvida que “Como Treinar o Seu Dragão 2″ concorrerá ao Oscar de Melhor Animação, mas os mais animados que o próprio desenho já falam até em indicação a Melhor Filme. Obviamente é complicado e dependerá muito da safra 2015, mas méritos para tanto o longa possui. A única nota dessoante é o fato de se tratar de mais uma animação lançada no Brasil apenas com cópias dubladas. Seria democrático dar ao público a opção de ouvir as vozes originais. . Como Treinar o Seu Dragão 2