Uma mega articulação que contou com a atuação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, um ofício enviado pelos clubes e o lobby de Vandenbergue dos Santos Machado, diretor de assessoria legistativa da entidade, livrou a CBF de ver as suas receitas entrarem na mira do Governo. Mais enfraquecido, o projeto para sanar a dívida dos clubes deve dar o seu primeiro passo para se tornar realidade na tarde desta terça-feira em Brasília.
Ele ainda enfrenta, no entanto, a resistência do Ministério da Fazenda, que entrou em choque com o Palácio do Planalto em torno das condições de parcelamento oferecidas aos representantes das equipes.
Está programada uma reunião na comissão do Congresso Nacional que discute o assunto para votar o texto final elaborado por times, especialistas em gestão desportiva e deputados da casa.
Antes de chegar a esse estágio, o plano passou por uma reforma na última semana. Uma operação foi feita em Brasília para desmembrar a iniciativa em duas partes: uma apenas sobre a dívida dos times brasileiros e outra, para ser discutida mais adiante, sobre a criação de taxas sobre as receitas da CBF que flutuou entre 10% e 5%, proposta defendida pelo próprio relator do projeto, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), e que poderia custar R$ 30 milhões aos cofres da entidade. A manobra contou com o papel fundamenal do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).
O parlamentar foi o responsável por conseguir recentemente o patrocínio da Caixa Econômica Federal para ABC e América-RN.
"É como se a gente tivesse em uma partida de futebol. Estamos no primeiro tempo do jogo, vamos votar essa parte. Mas a gente volta para o segundo tempo, que será tão emocionante quanto, para ver a questão da CBF", afirma Otávio Leite ao ESPN.com.br.
Por ser um assunto mais polêmico, o representante dos clubes na discussão, o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, acredita que tenha sido a melhor alternativa para agilizar a aprovação do projeto.
"Na nossa visão, a colocação das taxas para a CBF prejudicou muito a aprovação do projeto e prejudicaria ainda mais se fosse pra frente. O projeto tem de ser bem enxuto, com parcelamento das dívidas e responsabilidade dos clubes. Sempre foi isso desde o início e a gente brigou muito para ficar só neste conceito", explica.
Apesar do posicionamento, que acabou favorecendo a CBF, Vilson nega que os times tenham atuado como escudo da entidade. Na liderança das equipes, ele foi o responsável por fazer o contato com os demais mandatários, enviar e-mail, colher sugestões e e definir a linha de interesse da categoria. Como resultado disso, conforme obtido pela reportagem (veja mais abaixo), foi elaborado um documento enviado para a Câmara dos Deputados.
"Acredito que não servimos de escudo, não. A comissão não é da CBF. É dos clubes, eleita em uma reunião, um arbitral nosso. Agora, é importante dizer que a CBF não tem nenhum privilégio em relação a impostos, isso os clubes defendem, claro", completa.
Nos corredores em Brasília, os times ainda têm de superar outro obstáculo surgido com o projeto: o confronto de visões com o Ministério da Fazenda. O órgão encarregado pela correção do valor da dívida estimada em mais de R$ 4 bilhões não deseja aliviar no parcelamento em 300 meses - normalmente, permite apenas 240 meses - e no modelo de juros calculados com base no TJLP (longo prazo).
Por ser uma instituição de natureza técnica, a resistência da Fazenda já era aguardada pelos clubes.
Sendo aprovado nesta terça-feira, o projeto vai para o plenário da Câmara dos Deputados, depois para o Senado e em seguida para a presidente Dilma Rousseff. Apesar do longo caminho, Otávio Leite ainda acredita que tudo será feito antes da Copa do Mundo começar.
Se encaminhado, os clubes poderão refinanciar suas dívidas com a União, mas terão uma série de obrigações e punições a cumprir para continuarem em dia com os impostos.