Não existiu discriminação porque ele nem era presente na academia, e eu nem o conhecia", disse o empresário dono de academia envolvido em caso de racismo no Piauí. Ele preferiu não ser identificado na reportagem, mas contou ao G1 a sua versão sobre a acusação que recebeu de Katia Rejane de Sousa, a mulher que denunciou o empresário de ter impedido o filho de frequentar o local porque ele teria a 'aparência de marginal'.
O caso foi parar na Delegacia Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias do Piauí, e nesta semana o empresário foi indiciado pela Polícia Civil do estado. Ele deve responder na justiça sob a acusação de racismo e caso seja julgado como culpado, pode pegar de um a três anos de prisão.
"Não existiu discriminação porque ele não era presente na academia, e eu nem o conhecia. Inclusive, nem ela, nem o marido, nem o filho foram impedidos de malhar no meu estabelecimento porque depois do acontecido, ela mesma escolheu por bem não frequentar mais a academia nem permitir que o filho continuasse os treinos", contou.
De acordo com o dono da academia, Katia Rejane devia mensalidades na academia e o débito já durava mais de 90 dias. "Ao ser cobrada, ela se alterou", disse ele. O empresário mostrou à reportagem do G1 a carteirinha de Katia, do filho e do companheiro da mulher, informando que apenas a do garoto estava em dia.
"Eu até perguntei quando que ela poderia acertar as parcelas, porque quando os clientes atrasam assim, nós abrimos para o diálogo. Mas ela se alterou na recepção da academia, chamou o filho e se retirou de lá. Tem pessoas que não gostam de serem cobradas, e pelo visto ela não ficou à vontade", disse.
Por conta do ocorrido, o dono da academia chegou a mudar a forma de cobrança no estabelecimento e instalou catracas com identificação biométrica para controlar a entrada e saída de clientes.
"Não éramos tão radicais ao ponto de impedir nossos clientes de treinar simplesmente por atraso. Dependendo do caso, nós até liberamos. Só que o problema é que ela devia mais de 90 dias e chega a um momento em que não dá. Perguntei quando poderia acertar as mensalidades e ela se alterou", disse.
"São centenas de clientes com os mais diferentes perfis. Em meio a tantos, eu nem conhecia o rapaz, porque ele também não era presente. E nem sabia que era filho dela. Discriminado por conta da aparência e por ter tatuagem? Tenho dois filhos e um deles tem a idade do rapaz, e ainda tem tatuagem. Minha mulher também tem tatuagem", contou.
As investigações
O delegado Emir Maia, da Delegacia Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias, que investigou o caso, encerrou o inquérito na sexta-feira, dia 26, e indiciou o empresário por racismo, crime inafiaçável e imprescritível. O caso segue para a promotoria do Ministério Público ainda nesta semana.
A denúncia
A professora e orientadora social Katia Rejane de Sousa, de 41 anos, registrou um boletim de ocorrência acusando o dono da academia que o rapaz teria 'aparência de marginal'. O fato aconteceu no bairro Monte Castelo, na Zona Sul de Teresina. De acordo com Katia, a aparência do filho foi julgada pelo fato dele exibir tatuagens pelo corpo.