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Modelo duplicado e falta de pa

Modelo duplicado e falta de patrocínio acabam com sonho de tropa de elite de Cielo.

Publicada em 27 de Fevereiro de 2013 �s 11h06


 Ao reunir os melhores nadadores do país em uma mesma piscina, Cesar Cielo queria estimular seus companheiros a nadar mais rápido. Juntando a esse sistema de competitividade diária uma equipe multidisciplinar numerosa, com técnicos trabalhando quase individualmente com cada atleta, nascia uma verdadeira "tropa de elite" da natação verde-amarela.

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Na teoria, o P.R.O. 16 (Projeto Rumo ao Ouro 2016) tinha tudo pra dar certo. Mas não deu.

Após dois anos de sucesso, incluindo medalhas olímpicas para Thiago Pereira e Cielo, o idealizador está de volta à prancheta para redesenhar seu sonho. Nadadores saíram, deixando o campeão dos 50m livre em Pequim-2008 sozinho para reformatar sua equipe de natação. Os vilões para o fim do projeto, pelo menos como inicialmente idealizado, são inúmeros. Custo alto da estrutura, atrasos nos pagamentos dos clubes aos atletas. Principalmente, porém, a continuidade esbarrou no modelo esportivo da natação nacional, baseada em clubes, e na falta de empresas para bancar o time.

Custos altos e nenhum patrocínio

Um dos grandes atrativos do PRO 16 era a formação de um grupo de elite de nadadores, com um trabalho individualizado para cada necessidade específica. Esse é um modelo que está sendo usado com sucesso nos EUA e na Europa. Menos atletas, mais técnicos, mais atenção aos detalhes.

Treinavam no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo, além de Cielo, nadadores como Thiago Pereira, Nicholas Santos, Léo de Deus e Tales Cerdeira. À beira da piscina, Alberto Silva, o Albertinho, coordenava uma equipe que tinha praticamente um membro para cada atleta.

O problema é que toda essa estrutura era cara. Apesar da presença de grandes nomes e dos resultados que apareceram no período, Cielo não conseguiu transformar seu prestígio em apoio de empresas para o projeto. Nenhum dos seus patrocinadores investiu no time. E isso virou alvo de críticas: "Como uma equipe dessas não consegue investidor? Acho que a maneira de gestão do meu ex-grupo foi errada", afirmou Léo de Deus em entrevista à rádio Globo. Ele deixou o PRO e agora é nadador do Corinthians.

Sem uma empresa bancando os custos, os atletas acabavam arcando com a estrutura. E, como Léo, nem todos tinham verba para isso.

Atraso de salários

Excluindo Cielo, o dinheiro dos membros do projeto tinha duas origens: Correios, fruto do patrocínio da empresa à CBDA, e clubes. O dinheiro da empresa estatal, destinado a todos os membros da seleção brasileira, era certo. O dos clubes, não.

Nesse cenário, a aposta pelo Flamengo, um clube de futebol, custou caro. Se atrasos no pagamento de salários ficaram frequentes entre os jogadores do time principal de futebol desde o ano passado, com os nadadores era ainda pior. A situação ficou ainda mais crítica quando a ex-nadadora Patrícia Amorim, responsável pelo renascimento da equipe de natação rubro-negra, deixou a presidência dando lugar a Eduardo Bandeira de Mello. O fim do time de natação, confirmado há algumas semanas, era certo desde as eleições.

Sem o apoio do clube carioca, os nadadores passaram a procurar alternativas. E a deixar Cielo isolado. "Foi uma opção individual. Não estava sendo rentável, pela parte financeira, não ter um clube fechado após o contrato com o Flamengo. Teria de assumir um compromisso financeiro com o PRO 16. Vários profissionais estão no projeto. Eu preferi sair", afirma Nicholas Santos, que procura um novo time.

Estrutura duplicada



Além disso, atletas e clubes viviam uma situação peculiar. Bem ou mal, cada clube oferece a seus atletas a estrutura necessária para competir em alto nível. É verdade que existem problemas. Técnico dividido por 40 atletas. Piscinas congestionadas em que é necessário estabelecer mão e contramão para evitar trombadas. Temperatura da piscina fora da faixa ideal porque sócios querem a água "mais quentinha".

Ainda assim, piscina, sala de musculação, treinadores, fisioterapia, musculação, tudo está disponível. Clubes investem para dar essas condições aos atletas e, na hora de acertar salários, esse custo está diluído. No caso dos membros do PRO 16, além de ignorar esse investimento, ainda pagaram para criar uma segunda versão de serviços que já lhes era oferecido.

Isso era aceito pelo Flamengo e pelo Corinthians, mas com o fim do time carioca das piscinas, outros clubes se negaram a bancar a duplicidade. O time paulista diminuiu investimentos e trocou Thiago Pereira, mais valorizado pela medalha de prata em Londres-2012, por Léo. Outros clubes já avisaram que não iriam permitir que seus atletas treinassem fora de suas dependências no Brasil.

Ídolos como inspiração

Motivos para isso não faltam. Atletas de ponta usando suas piscinas atraem talentos, inspiram jovens e dão orgulhos a sócios. Um exemplo dessa ideologia é o Sesi . O time formou uma equipe de ponta feminina, com Ana Marcela Cunha, Daynara de Paula, Etiene Medeiros e Jessica Cavalheiro, sob o comando de Fernando Vanzella. Apesar do pouco número de atletas de ponta, o time conta com mais 13 atletas de divisões menores. E a presença do quarteto no clube é essencial.

"A ideia do Sesi é usar os atletas não apenas para conquistar resultados. É inspirar as crianças. O Sesi tem, além dos próprios atletas jovens, uma escola de ensino fundamental. E a função dos atletas é servir de inspiração para essas crianças. É uma filosofia interessante, que foge um pouco do que os clubes fazem tradicionalmente", explica o técnico.

Outro problema, relacionado aos clubes, é o próprio modelo da natação brasileira. "O sistema de competição que temos hoje, com Maria Lenk, Finkel e Open, exige grandes equipes de atletas. Os principais clubes precisam de 40, 50, até 60 nadadores para disputar. Nesse aspecto, você tem de montar uma equipe muldisciplinar grande", diz Vanzella.

Ou seja. Exatamente o oposto do que o PRO 16 pregava. Nas principais competições nacionais, o PRO 16, na teoria, não existia. Não era um clube, mas um conjunto de nadadores que treinam juntos e se dissolvia durante torneios como o Maria Lenk ou o José Finkel.

Apesar dos benefícios para os atletas, o sonho de Cielo acabava deslocado. Somando a essa situação incomoda o custo alto de fazer parte disso e a recusa dos times em bancar isso sem receber um benefício mais amplo do que o resultado em si, o PRO 16 acabou. Cielo ainda fala em recrutar "um pessoal novo". Mas essência ficou no passado, com a glória de Thiago Pereira e a medalha do próprio Cielo como lembrança.
Tags: Modelo duplicado - Ao reunir os melhore

Fonte: UOL �|� Publicado por: Da Redação
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