Neymarfalou. Sorriu, ficou sério e mostrou incômodo. Depois de 14 personagens diferentes em entrevistas coletivas desde o último dia 18, o craque do Barcelona foi a atração da tarde na Granja Comary. O jogador elogiou Rogério Micale, mostrou-se surpreendido positivamente com o trabalho da comissão técnica e com o nível do futebol dos companheiros. Mas também saiu um pouco do sério ao ser questionado sobre a última impressão que deixou mesmo quando não atuava pela seleção brasileira. O desabafo, com xingamento, aos críticos da seleção foi motivo de texto em rede social - seguido de pedido de desculpas no dia seguinte.
Quando ouviu a pergunta sobre falta de comprometimento e certo individualismo nos bastidores da seleção, o craque sorriu e disse "só pode estar de brincadeira", chamando a atenção do jornalista para que olhasse para os olhos dele enquanto respondia. Depois, respirou fundo e bebeu água pela primeira vez.
- Tem que ver as coisas que faço dentro de campo. Fora, são coisas particulares. Quando estou fora do campo, independentemente de qualquer coisa, é minha vida particular. Tem que me cobrar dentro de campo, não tenho problema nenhum em falar sobre cartões, expulsões. Tenho vida particular, sou um cara de 24 anos. Sou novo, tenho minhas conquistas, minhas coisas. Sou muito tranquilo quanto a isso, tenho meus erros também. Não sou um cara perfeito. Também gosto de sair, de me divertir com meus amigos, tenho família, amigos. Por que não posso sair, ir para a balada? Posso sim e eu vou. Independentemente de qualquer coisa, se tenho consciência do meu dever no dia seguinte, não vejo problema nenhum. A partir do momento que eu sempre me entrego, tento sempre fazer meu melhor, meu máximo, não há problema. Erro sim e ainda vou errar, isso é normal para um ser humano. Sou dos mais experientes aqui e não é por isso que sou perfeito. Pelo contrário. Estou aprendendo cada vez mais com os meninos mais novos que eu - disse o atacante do Barcelona, chamando a pergunta de "maldosa".
Gabriel Jesus no Barça?
Com conversas quase diárias com o treinador Rogério Micale e bom entrosamento com a garotada, o jogador disse que os bate-papos são comuns nesta seleção - "Micale gosta de conversar, não é só comigo, não" - e elogiou bastante os primeiros contatos.
- Estou muito feliz de estar aqui na seleção olímpica. Estou surpreso em todos os aspectos. Com treinador, com time. Estamos nos conhecendo ainda mais, a cada treino ele está nos corrigindo ou buscando melhor para a movimentação da equipe. Nas conversas acho que ele ajusta tudo isso - disse Neymar, que ainda deu conselhos para Gabriel Jesus, cobiçado por grandes times europeus e agora também pelo Barcelona. - Falei para que seja feliz: se tiver que sair agora ou mais para frente, ele tem que saber o momento certo. É difícil, passei por isso, sei como é. É difícil manter o foco totalmente na seleção e não ficar se imaginando naquele time.
Principal nome da seleção, Neymar disse que a fama não lhe dá privilégios. Nem mesmo o torna inquestionável no grupo. Em outros tempos, jogadores mais badalados eram chamados de "presidentes da resenha". Papel que já coube a Ronaldo, Ronaldinho e Robinho. O jogador do Barcelona disse que não se sente desta maneira com a equipe de Micale.
- Não me sinto presidente, não me sinto intocável, pelo contrário, tento chegar mais perto deles, estar cada vez mais próximo, dá pra sentir a diferença quando se fala com cada jogador, estive onde eles estão, começando, fazer papel de líder é uma grande honra, um grande orgulho, esses meninos são tão bons de bola que ser o ídolo deles para mim é maravilhoso. Tento sempre deixá-los à vontade, brincar com eles para que estejam tranquilos.
Pela manhã, o técnico Rogério Micale teve o desfalque de Fernando Prass. O goleiro sentiu dores no cotovelo direito, que operou em 2014. Com inchaço no local, ele ficou fora das atividades. O departamento médico informou que a lesão está melhorando e é possível que o goleiro do Palmeiras, de 38 anos, participe das atividades de quarta-feira.
Retorno à Seleção
Fui surpreendido em todos os aspectos: treinador, o nosso time... Estamos nos encaixando, buscando nos conhecer ainda mais para que possamos alcançar nosso objetivo. A cada treino nosso treinador está nos corrigindo, buscando o melhor para a equipe. Nas conversas ele ajusta a movimentação, isso é bom.
Conversa com Gabriel Jesus e outros jogadores cobiçados
Falei, sim. Não só para ele, mas para todos, como é jogar no Barcelona, viver na cidade. É um grande jogador, um craque, sabemos que muitos clubes estão querendo ele. Falei para que seja feliz: se tiver que sair agora ou mais para frente, ele tem que saber o momento certo. É difícil, passei por isso, sei como é. É difícil manter o foco totalmente na seleção e não ficar se imaginando naquele time. Sei que para eles acaba fugindo um pouco, mas, a partir do momento que estão dentro de campo, têm foco para melhorar nos treinos. Querendo ou não, o mundo inteiro vai estar assistindo a eles. Então, têm que estar muito bem.
Ambiente da Seleção
Nunca foi o problema. Desde que venho para cá, em todos os ambientes nos quais participei, nunca foi ruim. Todo mundo conversava, brincava. Infelizmente em algum momento as coisas não deram certo.
Presidente da resenha?
Não me sinto presidente nem intocável. Pelo contrário. Tento chegar mais perto deles, estar cada vez mais próximo. Estive onde eles estão. Fazer papel de líder é uma grande honra, um grande orgulho. Ser o ídolo, para mim, é maravilhoso. Tento sempre deixá-los à vontade.
Capitão
(A decisão) ainda está com o Micale. Não é uma coisa que me preocupa. Independentemente de quem seja o capitão, acho que todo mundo tem a liberdade para conversar, gritar, auxiliar a equipe da melhor maneira possível. A braçadeira é uma coisa mais simbólica. Todos têm esse papel. Todo mundo tem o direito de falar e expor seu pensamento.
Trabalho com Micale
(Surpresa pela) forma como ele trabalha, como eles (comissão técnica) deixam claro o que querem. Não vejo diferença. É um cara que ensina, tenta ensinar da melhor maneira para que o jogador possa entender o trabalho, sabendo o que pode ser feito nos treinos. Até demora um pouco mais para esclarecer o treino, acho isso perfeito. É um cara que tem pouca experiência, mas tem muita coisa boa, um grande futuro. Está sendo uma honra trabalhar com ele. Estou aprendendo bastante.
Responsabilidade
Ganhar é muito bom. Ser cobrado para faz parte do futebol. Estou aqui para isso, seja pelo lado bom ou ruim. Os jogadores são novos, mas sabem que vão ser cobrados pela responsabilidade de defender o Brasil em casa na Olimpíada. Não é coisa que me preocupa. Quem tem medo de perder tira a vontade de ganhar. Se tem coisa que não tenho medo é de perder. Se tiver que perder, vai ser de cabeça erguida. Não gosto de perder. Não passa pela minha cabeça perder, e sim estar na final no Rio, no Maracanã.
Neymardependência?
Nunca gostei de ficar falando de mim mesmo, mas vou citar o exemplo do Barcelona. Temos grandes jogadores, mas como vamos dizer que não dependemos do Messi? Claro que dependemos. Queremos sempre depender dos melhores jogadores. Não temos vergonha alguma de jogar para ele e de ele ser o cara. Temos que botar o pezinho no chão para saber da sua importância na equipe.