Rafaela Silva levou um susto. Quando acordou na manhã desta terça-feira, depois de dormir apenas quatro horas, resolveu dar uma espiada nas redes sociais. E percebeu o peso do ouro que carrega no peito. Teve recado de Neymar, recado da cantora Ludmilla e muitos, muitos seguidores. Foi aí que caiu a ficha: Rafaela agora é famosa.
- O que mais me chamou a atenção é que eu tinha 10 mil seguidores no Instagram, e agora de manhã tinha 90 mil (93,5 por volta de 10h30). Recebi apoio do Neymar, do Daniel Alves, da Ludmilla. Está sendo bem diferente. Queria poder chegar perto dessas pessoas, e elas estarem agora me citando é especial para mim - disse a judoca.
Todo mundo quer seguir Rafaela, a campeã olímpica de judô, a dona da primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos do Rio. E é uma ironia do destino. Justo ela, tão xingada quando foi desclassificada em Londres-2012 por causa de um golpe ilegal - ofendida até com palavras racistas. Justo ela, que quase abandonou o judô por não suportar o peso daquela derrota - e dos ataques que vieram com ela.
- Depois da derrota em Londres, pensei em parar de fazer judô. Só queria ser amparada por meus amigos. Recebi todas as críticas pela maneira como perdi. Voltei a treinar no final de 2012, competi em 2013, fui campeã no Pan, em agosto fui campeã mundial no Rio, e aí senti que poderia estar no Rio novamente representando o Brasil.
E como representou. O ouro mudou a vida de Rafaela menos de 24 horas após a conquista. Nesta manhã, na casa do Time Brasil, na Barra da Tijuca, ela deu entrevistas a dezenas de jornalistas. Antes, mal tivera tempo de abocanhar um hambúrguer e comer um brigadeiro - regalias de campeã.
- Comi um brigadeiro que ganhei aqui ontem. Mas nem consegui ficar até o fim da festa. Fui dormir às quatro da manhã.
Com apenas 24 anos, Rafaela tem muitos planos, e Tóquio-2020 já está na mira.
- O judô tem seus favoritos. No tatame, ganha quem tem mais vontade, e dentro da minha casa ninguém poderia ter mais vontade que eu. A sensação que senti ontem, quero sentir novamente. Quero dar mais alegria ao povo brasileiro. Quero continuar nas competições e ir para Tóquio - afirmou a medalhista olímpica.
- Sou bem jovem. Tenho 24 anos. A sensação que senti ontem quero sentir novamente. Quero dar mais alegria ao povo brasileiro. Quero continuar nas competições e ir para Tóquio - completou.
Confira outros trechos da entrevista:
Exemplo
- Posso servir de exemplo pras crianças da comunidade. Só de ser negra, a pessoa já sofre preconceito. As pessoas tiram a bolsa de perto só de ver na rua. Fui fazer judô como brincadeira. Não tinha objetivos. Meu professor sempre acreditou, pagava minha viagem, e apostou no meu potencial.
Mayra Aguiar como referência
- Eu me inspirei na Mayra Aguiar, por ser tão jovem, e ontem saí com a informação de que sou quem tem mais títulos, juntando todas competições. Daqui a pouco, meu ídolo, a Mayra, pode ser campeã também.
Torcida
- Já tinha sentido a torcida no Mundial, no Maracanazinho, mas foi bem maior agora. Só queria dar alegria ao povo brasileiro, o que não pude dar em Londres.
Sensação na disputa
- Minha chave foi bem parecida com a de Londres. A única coisa que eu pensava era que poderia enfrentar a adversária de Londres. Lembrava da dor daquela derrota. Fui com toda a vontade. Doeu, doeu muito, quase desisti do meu esporte, e queria uma sensação diferente daquela.
Apoio
- Fui amparada desde que comecei no judô. Não tinha quimono. Ganhei um e tive que ficar amarrando a calça, porque era muito maior que eu. As criancinhas choravam para não competir comigo. Ganhava competição, e ficava feliz, mas triste porque não sabia se poderia viajar de novo.
Importância do judô
- Quando comecei no judô, era uma criança bem agressiva. Qualquer coisa que falavam, queria brigar. Arranjava confusão se não me deixavam brincar. O Instituto Reação exige ser um bom cidadão. O professor sempre cobrou boletim escolar. Se não fosse bem na escola, não podia fazer exame para trocar de faixa. Não era só cobrar o treino: eram também a parte social.