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Tite: Quero trabalhar no Rio

Tite: Quero trabalhar no Rio e treinar um time carioca.

Publicada em 29 de Novembro de 2015 �s 22h32


 SÃO PAULO - Com dois títulos Brasileiros, um Mundial, uma Libertadores e uma Recopa pelo Corinthians, além de uma Copa Sul-Americana pelo Internacional e uma Copa do Brasil pelo Grêmio (fora os regionais conquistados), Tite dispensa apresentações. E dispensa pensar em seleção brasileira agora também. Mas revela, em entrevista exclusiva ao GLOBO, que tem o objetivo de treinar um clube carioca. Basta que um visionário ou um “maluco beleza”, como ele, sente-se à mesa para planejar futebol. E isso ele faz muito bem. Campeã brasileira com três rodadas de antecipação, sua equipe ainda deve quebrar o recorde de maior número de pontos, menos derrotas, maior saldo de gols e melhor aproveitamento da na era dos pontos corridos. Confira o que ele pensa sobre liderança, corrupção, CBF, Liga Rio-Sul-Minas, Profut...

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Como fez para reanimar um time eliminado no Paulista e na Libertadores, com atrasos de salários, em torno de uma ideia de jogo e uma ambição de título?

Primeiro, é ter a grandeza de avaliar o trabalho independentemente de ser o campeão ou não. Saiu de forma precoce dos dois campeonatos, porém o trabalho realizado e as amostras da qualidade do futebol foram muito marcantes. Se retomar o padrão desses dois campeonatos com grau de maturidade para suportar as pressões e os revés que possam acontecer, vamos ser campeão. Não sei se vai ser da Copa do Brasil, do Brasileiro, se vai ser esse ano. Com aquele padrão, a chance de sermos campeões eram muito grandes... Retomou o padrão, então tem uma certa lógica.

Mas como os motivou mesmo com os salários atrasados?

Não é função do técnico e não tive papel nenhum nisso. É folclore achar que o técnico fala, é mentira. Quem fez foi a direção. É uma relação de confiança na medida em que o diretor diz: 'nós vamos dar um passo para trás esse ano para dar dois à frente porque não estamos com condições financeiras'. A realidade dos fatos, sejam eles a favor ou contra, dá credibilidade. A manifestação da presidência de que iam pagar aos poucos, essa relação de verdade e ambição foi fundamental.

Essa ambição contagiou até os reservas na vitória por 6 a 1 contra o São Paulo. A meta é quebrar esses recordes, fazer história?

Esse é o mote, esses são os desafios que a gente elencou com o departamento de informática. Tem um que acho muito significativo que é a equipe mais disciplinada. Um campeonato tão difícil como esse tu ganhar com uma pontuação sendo a equipe que menos cartões amarelos e vermelhos teve, uma das que menos fez faltas, e que é uma das que mais desarma passar uma mensagem educativa: ser melhor e mais competente sem precisar quebrar ninguém, provocar nem fazer antijogo.

Então, se ainda tiver chance de ficar na série A na última rodada, o Vasco pode confiar na vitória dos reservas do Corinthians contra o Avaí?

O Vasco vai fugir pelas suas próprias forças, pelo trabalho e pela dignidade. E não pela ajuda de alguém. Não me dou o direito. Vai depender de todos. A mesma dignidade que tivemos em atacar o Vasco até o final do jogo, vamos ter em relação aos outros também. Porque princípios, moral e honestidade não se negocia. Ou se tem ou não tem.

O que é liderança para você?

É ser verdadeiro. Não é ser certo em sua plenitude, nem a minha verdade ser a definitiva. Mas eu ser sincero com atleta individual e coletivamente. De colocar para o grupo: vocês vão ter sempre de mim a lealdade de falar pela frente. Estabelecer essa relação e, por vezes, omitir de forma pública quando os erros são individuais. Me sinto no direito de cobrar o atleta individualmente e no grupo. Não me sinto no direito de expô-lo publicamente.

Após ganhar todos títulos possíveis em clubes, o que falta na sua carreira além de treinar a seleção brasileira?

Os desafios se renovam na medida em que você vê uma equipe nascer, se fortalecer e ser campeã. Ver o quanto essa equipe cresceu é fascinante, é desafiador. Isso me motiva: a construção de uma equipe e os estágios em que ela vai evoluindo. Passamos para uma segunda etapa no ano que vem, que é a Libertadores e sua sequência. As etapas de crescimento, até onde pode chegar, desafiá-la para que possa crescer. Fazer aquilo que entendo ser fundamental numa equipe: ter dois atletas para cada posição e que um pressione o outro a crescer. Se algum atleta fica numa zona de conforto, o nível técnico individual vai cair e consequentemente o coletivo vai cair.

Mas e a seleção?

Não quero falar sobre seleção brasileira porque qualquer palavra que eu disser vai dar margem a “n” interpretações. É um momento mágico que quero curtir. É o trabalho realizado, todos esses detalhes e essas minúcias durante a nossa campanha, a construção da equipe. Existem momentos profissionais que vão surgir para cada um. É inevitável. Vai surgir o meu também.

Ficou alguma mágoa ou frustração após a escolha do Dunga no ano passado?

Foi uma oportunidade ímpar para aquele momento. Me preparei para isso. Foram sete dias (de espera), e depois é vida que segue. É ascensão. E eu tenho um objetivo muito maior: constante reciclagem. É um clichê, mas “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Quero ter sempre ter a inquietude do saber, de procurar o novo, o desafiador, mesmo que daqui a pouco eu erre.

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Você já disse que se considera um dos cinco melhores técnicos do Brasil. Quais seriam os outros?

Falei muito e me f*** (risos). Não dá para conceituar quem é melhor, mas quem está num grande momento nos últimos três, quatro, cinco anos e não três meses: Dorival Júnior, Marcelo Oliveira, Levir Culpi e o Roger que para mim é a revelação do campeonato. Mas com uma grande menção ao Nelsinho Batista, com uma equipe muito bem organizada (com duas linhas de quatro).

E o Dunga?

É uma etapa. Deixa ter início, meio e fim para ter uma real avaliação. Quando terminar a Copa do Mundo aí te respondo essa pergunta.

O que precisa evoluir no futebol brasileiro dentro e fora de campo?

A Copa do Mundo mexeu com as estruturas, saiu da zona de conforto. Os primeiros na mira da bazuca foram os técnicos. Detonaram os técnicos. Viramos os piores. Até técnico da Índia podia ser melhor. Depois proliferou. Aí flagraram que todos nós deveríamos crescer. O mais importante para mim: técnicos, procurem a inquietude do saber e a reciclagem a cada momento. Tenham a grandeza dessa reciclagem. Se profissionais de outros países vêm pra cá, por que não vão lá e acompanham? Não é demérito, não vai estar copiando de ninguém, mas trocando informações e adaptando a situações reais. Por que não fazer um curso Uefa com fez o Mano? Trazer cursos para cá desse padrão para que habilite o ex-atleta a crescer ou o formando de educação física que não tem a experiência, o cheiro do vestiário.

E o que mais?

Quando os dirigentes contratam o técnico, é muito melhor terem qualificação profissional ou contratarem executivos para selecionarem seus profissionais do que despedirem e dizer que o trabalho estava bem feito mas era preciso fazer algo para melhorar. Participa junto da gestão com o técnico e os executivos para que o futebol seja bem executado. Todos os presidentes, gestores e investidores. Selecionem bem os profissionais para passar aos seus dirigentes quem são os melhores e que tipo de futebol tu quer pro teu clube. Depois, ajude a selecionar os atletas e quanto vale cada um. Porque os investimentos vão estar ligados diretamente à possibilidade de retorno.

E no futebol carioca o que precisa melhorar?

A impressão que tenho é de que o primeiro clube do Rio que tiver uma infraestrutura parecida com a do Corinthians e do São Paulo, de centro de treinamento, da logística de todo trabalho integrado (departamento médico, fisiologia, concentração, campos de treinamento) vai dar um passo muito grande. A paixão é a mesma, a qualidade, os profissionais trabalhando nos grandes clubes cariocas têm a mesma motivação do que em Minas e São Paulo. Vai gerar credibilidade.

Não seria um desafio para você treinar um clube do Rio?

Mais do que um desafio é um objetivo pessoal. Eu quero trabalhar no Rio. Terminar minha etapa aqui e trabalhar lá. Quando, eu não sei. Mas quero sentar com um visionário, com um louco, um maluco para planejar e pensar futebol. Para a relação ser harmoniosa de ideias do tipo: ‘vamos pagar 1 em vez de pagar 3, mas esse 1 vai ser pago para todo mundo’.

O Andres Sanchez me disse que você aceitou voltar ao Corinthians ganhando menos da metade do que o Internacional ofereceu por causa da estrutura do clube. É isso mesmo?

Essa é uma parte. A outra é porque tenho lealdade às pessoas que são leais comigo. O presidente Roberto Andrade passou três anos e meio comigo, e as outras pessoas que estavam dirigindo ou postulando a presidência se manifestaram de forma pública dizendo que eu era um profissional que todos gostariam. Aí me deixou mais à vontade.

E como ficou após a saída de vários jogadores?

Não queria que Emerson, Fabio Santos, Petros e Guerrero saíssem. E disse isso a eles todos. Mas há alguns outros componentes e interesses em que não posso interferir: longevidade do contrato, valor financeiro, nível de investimento. Isso é da organização. Uma vez, sentado na mesa com o presidente do Atlético de Madri, ele me disse: ‘nós temos um orçamento, que vai para o pagamento dos funcionários, e o que sobrar vai para o investimento no futebol. Se eu estourar, qualquer clube da primeira divisão entra na minha área administrativa, financeira, e eu sou rebaixado para a segunda’. Incrível o nível de organização.

Enquanto isso, os clubes brasileiros resistem a aderir ao Profut... Todo mundo seria rebaixado?

Exatamente. Faça esse refinanciamento, cumpra esse refis e depois faça o investimento de acordo com teu orçamento e tuas responsabilidades. Vamos nos adaptar. Aí não precisa pagar para ficar trocando de técnico toda hora. Nem pagar um mundaréu de dinheiro a ele. Todos os técnicos gostariam de receber menos e ter uma estabilidade maior. Até porque, se fica mais tempo, vai ficar menos tempo desempregado e ganhar mais. É uma questão lógica. As pessoas fogem é das responsabilidades.

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E o que você pensa sobre a Liga Rio-Sul-Minas?

Para mim, a CBF é muito centralizadora. O futebol vai evoluir na medida em que uma liga proliferar, e ela tiver autonomia no direcionamento dos campeonatos. Os interesses têm que ser melhor trabalhados. A Liga me parece que está trazendo isso. Que as federações e a CBF cuidem dos campeonatos regionais e da seleção. É um processo natural de crescimento.

O que acha dos escândalos de corrupção da Fifa envolvendo dirigentes da CBF?

Vibro muito com esse processo de depuração. O corrupto tem que ir para a cadeia. E, nós de alguma forma, começarmos a reavaliar nossa conduta, seja ela no esporte ou no meio social. Ouvi um relato da ministra Carmen Lucia do STF dizendo que não achem que a corrupção vai vencer a lei, que a sacanagem vai vencer a correção. Me senti orgulhoso de ser brasileiro. Não vai ser esse caminho. É no esporte e no meio social. Tenho essa esperança.

Neymar já é o melhor jogador do mundo?

Não. É o Messi. Mas vai vir a ser. Tem 23 anos. O Messi tem cinco ou seis anos a mais. Hoje é mágico. O Neymar vai chegar nesse estágio.


Tags: Tite: ?Quero trabalh - Corinthians

Fonte: globo �|� Publicado por: Da Redação
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